quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Combate à mortalidade infantil é uma das prioridades para o Brasil dar um novo salto social, diz diretor do Inae


 

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Priorizar as ações que diminuam a mortalidade infantil no país é, na opinião do economista Roberto Cavalcanti de Albuquerque, diretor técnico do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), uma das principais condições para o Brasil dar um novo salto na área social até 2025.
Ele destacou que o país já obteve avanços significativos no combate à mortalidade infantil, que chamou de “um velho problema brasileiro". Nos anos 30 do século passado, a relação era de 160 crianças mortas para cada mil nascidas vivas até 1 ano. Hoje, o Brasil ainda tem uma taxa de mortalidade de 23 crianças para cada mil nascidas vivas, disse à Agência Brasil.
“A Organização Mundial da Saúde (OMS) aceita hoje como meta limite dez crianças para cada mil nascidas vivas. Esse é o objetivo que nós sugerimos seja atingido em 2025. Ou seja, uma redução anual de 5% na mortalidade infantil”. Cavalcanti afirmou que essa meta vai ao encontro do programa Rede Cegonha, lançado pela presidenta Dilma Rousseff, com investimentos de R$ 9,5 bilhões em quatro anos. “Esse projeto pode reduzir bastante a mortalidade infantil e ampliar a proteção à maternidade e à infância em geral”.

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Mortalidade infantil preocupa

A cada 24 horas, nove crianças com menos de um ano de idade, filhos de adolescentes, morrem no Brasil. Em 2009, morreram 42.684 bebês - 20% deles eram filhos de meninas de 10 a 19 anos. Os dados fazem parte do Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: um olhar especial para os filhos de mães adolescentes, divulgado pela ONG Visão Mundial, no Recife. 

“Esses números mostram que houve dupla violação. Tratam-se de mortes infantis que não deveriam acontecer e da violação aos direitos das adolescentes”, afirmou a assistente social Neilza Costa, coordenadora técnica do estudo.

Os pesquisadores se debruçaram sobre dados do Sistema único de Saúde (SUS) e de outras fontes, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Foi possível observar, por exemplo, que, embora a gravidez na adolescência venha diminuindo nos últimos anos - 20% entre 2003 e 2009 -, esse fenômeno se concentrou na faixa etária de 15 a 19 anos. “Entre as adolescentes de 10 a 14 anos estão aumentando os casos de gravidez, como também aumenta quase 1% ao ano o número de óbitos de bebês filhos de adolescentes”, afirma Neilza.

O estudo cita um dado de 2007, quando meninas de até 14 anos foram mães de 28 mil crianças. O levantamento mostra ainda que nem todos esses bebês representam a primeira gestação - para 233 meninas, aquela era a segunda gravidez.

A pesquisa traça também o perfil das grávidas adolescentes - são de famílias empobrecidas, mais da metade são negras ou pardas e 49% estão no Norte e Nordeste. O Sudeste tem o menor registro de mães adolescentes - 16,56% - seguido pelo Sul, com 19,85. A média no Brasil é de 19,92%.

“O número de filhos de adolescentes que morre é muito grande. E 60% dessas mortes são evitáveis. São crianças que morrem desnecessariamente como expressão das desigualdades sociais”, afirma Neilza.

O estudo faz parte dos esforços da campanha Saúde para as Crianças Primeiro, da Visão Mundial. "É preciso que o Ministério da Saúde tenha programas específicos para captar mais cedo essas meninas, para que elas façam o pré-natal", defende Neilza.

Ana Luiza Lemos Serra, coordenadora substituta de atenção à saúde do adolescente do Ministério da Saúde, afirma que a pasta tem iniciativas voltadas para esse público, como o Programa de Saúde na Escola e distribuição de 5 milhões de cadernetas de saúde do adolescente, com instruções para o auto-cuidado. Mas a grande dificuldade tem sido sensibilizar o profissional de saúde. “Alguns não concebem que uma adolescente de 11 anos possa ter relações sexuais e impedem o acesso ao contraceptivo, à informação. A gente lida com uma questão de valores. Estamos atuando para sensibilizar esse profissional.”

Por: Agência Estado - Jornal do Comercio