“Esses números mostram que houve dupla violação. Tratam-se de mortes infantis que não deveriam acontecer e da violação aos direitos das adolescentes”, afirmou a assistente social Neilza Costa, coordenadora técnica do estudo.
Os pesquisadores se debruçaram sobre dados do Sistema único de Saúde (SUS) e de outras fontes, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Foi possível observar, por exemplo, que, embora a gravidez na adolescência venha diminuindo nos últimos anos - 20% entre 2003 e 2009 -, esse fenômeno se concentrou na faixa etária de 15 a 19 anos. “Entre as adolescentes de 10 a 14 anos estão aumentando os casos de gravidez, como também aumenta quase 1% ao ano o número de óbitos de bebês filhos de adolescentes”, afirma Neilza.
O estudo cita um dado de 2007, quando meninas de até 14 anos foram mães de 28 mil crianças. O levantamento mostra ainda que nem todos esses bebês representam a primeira gestação - para 233 meninas, aquela era a segunda gravidez.
A pesquisa traça também o perfil das grávidas adolescentes - são de famílias empobrecidas, mais da metade são negras ou pardas e 49% estão no Norte e Nordeste. O Sudeste tem o menor registro de mães adolescentes - 16,56% - seguido pelo Sul, com 19,85. A média no Brasil é de 19,92%.
“O número de filhos de adolescentes que morre é muito grande. E 60% dessas mortes são evitáveis. São crianças que morrem desnecessariamente como expressão das desigualdades sociais”, afirma Neilza.
O estudo faz parte dos esforços da campanha Saúde para as Crianças Primeiro, da Visão Mundial. "É preciso que o Ministério da Saúde tenha programas específicos para captar mais cedo essas meninas, para que elas façam o pré-natal", defende Neilza.
Ana Luiza Lemos Serra, coordenadora substituta de atenção à saúde do adolescente do Ministério da Saúde, afirma que a pasta tem iniciativas voltadas para esse público, como o Programa de Saúde na Escola e distribuição de 5 milhões de cadernetas de saúde do adolescente, com instruções para o auto-cuidado. Mas a grande dificuldade tem sido sensibilizar o profissional de saúde. “Alguns não concebem que uma adolescente de 11 anos possa ter relações sexuais e impedem o acesso ao contraceptivo, à informação. A gente lida com uma questão de valores. Estamos atuando para sensibilizar esse profissional.”
Por: Agência Estado - Jornal do Comercio
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